23 de fevereiro de 2008

União Europeia dá o exemplo

A União Europeia vai investir 15 milhões de euros no protocolo Bit-Torrent nomeadamente no projecto P2P-Next. À equipa outrora responsável pelo tribler será incumbida a tarefa de desenvolver um cliente de Bit-Torrents, open source [1], totalmente compatível com live streaming.
Alguns dos grandes investidores que também dão a cara - e mais 4 milhões - por este projecto são por exemplo a BBC e a European Broadcasting Union.

Certamente que a BBC concluiu que os Bit-Torrents e o live streaming são o futuro. E estava à vista à muito tempo! Ao vermos notícias como esta dizendo que 50% de todos os downloads de torrents são de séries televisivas, e que se estima que são sacados mais de um Bilião de séries televisivas todos os anos (e que este número continua a crescer) vemos que a BBC está no bom caminho. E não só a BBC. Recentemente recordo-me de ter visto a RTP anunciar que estavam a transmitir um jogo de futebol por streaming no seu site. Por bit-torrents ou não, já é um passo muito positivo e que vai de encontro à necessidade dos seus utilizadores!
Pergunto-me também quantos de nós não estávamos dispostos a pagar para ter as séries (de forma legal) em tempo real em nossa casa? Porquê esperar 1 ano até que a RTP se lembre de comprar os direitos de transmissão da série, e vê-la à hora que eles querem? Recordemo-nos também de que a grande fatia dos lucros do mercado vão para os distribuidores que assim vêm o seu futuro ameaçado visto que a própria produtora pode disponibilizar os conteúdos online (por preços bastante mais apelativos) directamente aos consumidores finais.


Agora falando um pouco acerca do protocolo Bit-Torrent e do P2P (peer to peer) em geral.
Um protocolo peer to peer e um protocolo ponto a ponto, em que um nó (extremo da ligação) se liga directamente a outro sem necessidade de se ligarem todos a um servidor central. Isto veio revolucionar o modo como o tráfego é distribuído visto que em vez de termos N users a consumir toda a largura de banda de um servidor, temos esses mesmos N users a aproveitarem a largura de banda uns dos outros para partilharem as coisas entre si.
Um bom exemplo de P2p é o protocolo Bit-Torrent.
Eis como funciona:

Para partilharmos um ficheiro usando o protocolo Bit-Torrent temos antes de mais que criar um "torrent". Um torrent é um pequeno ficheiro que contém apenas informação acerca dos ficheiros a serem partilhados e do tracker - computador central que vai coordenar a distribuição de ficheiros.
Depois disto, quando um peer quiser ter acesso a estes ficheiros apenas tem que fazer download do torrent, que ao ser adicionado no respectivo programa se vai ligar ao tracker (ao tal computador central) e nos vai dar informações sobre todos os outros computadores que estão a receber/partilhar esta mesma informação.

A eficácia deste protocolo é grande porque os recursos no servidor (tracker) são mínimos - pois só diz aos clientes quais são os outros clientes que também estão a partilhar/sacar o mesmo ficheiro, e na pessoa que também partilha o ficheiro também são reduzidos.(Ver animação ao lado)
Tomando por exemplo uma música de 6MB, o que acontece é o seguinte:
O computador que vai distribuir a música vai dividi-la em 6 partes de 1MB (hipoteticamente). Cada uma destas partes vai ser partilhada para os diferentes computadores, de tal modo que ao fim de poucos "ciclos" o torrent seja auto-subsistente, ou seja, mesmo que o computador que o meteu na rede se desligue, ele consegue que todos os outros computadores o consigam recuperar partilhando todas as partes entre si (ver imagem ao lado).

No sentido prático, há algumas considerações a fazer no que toca ao download de ficheiros (legais claro :P) por torrents.
Há imensos sites onde podemos ir buscar torrents. Estes sites além de terem um servidor onde alojam todos estes torrents têm também um computador central (servidor) que funciona como tracker e que gere as conexões entre os peers.
De entre os trackers existem duas grandes distinções:
- Os trackers públicos e os privados.
Os públicos baseiam-se na boa vontade dos users e qualquer pessoa pode fazer download dos torrents (sem ter registo no site) e não precisa de ter um racio [2] de partilha positivo. Por isso, aquando da conclusão do ficheiro em causa, só a nossa boa vontade é que nos faz partilhar!
Entre estes consta o Pirate Bay, o mininova, torrentreactor, etc...
Nos privados, regra geral é preciso convite para entrar e é exigido um rácio positivo para a permanência no tracker. Isto para evitar situações de pessoas que só sacam e não partilham, o que não favorece em nada a comunidade. Por esta obrigação de partilhar e de ter um racio positivo, com os trackers privados também se consegue, obviamente, outras velocidades de download e outra disponibilidade de ficheiros que não se consegue nos trackers públicos.
São exemplos de trackers privados o TorrentLeech, Demonoid, o BTnext (só tráfego português) etc...

Depois disto, para completar a festa, ainda há vários programas de bit-torrent, dos quais se destacam o Utorrent e o Azureus. Ambos são bastante semelhantes, sendo que o Utorrent é mais leve (consome menos recursos ao computador) e básico para o usar, enquanto o azureus é mais potente a nível de "funcionalidades xpto" e bem mais pesado.

A nível pessoal, uso o Torrent Leech, o Torrentz (motor de pesquisa de torrents) quando preciso de algum ficheiro mais antigo e o Utorrent como programa de download.


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[1] - O que é software Open Source?
- De um modo simplista, é software cujo código fonte do programa está aberto e disponível ao público, ou seja, qualquer um pode ver a programação por detrás do programa, alterá-lo conforme as suas necessidades, etc...

[2] - Racio é o quociente entre o tráfego que enviamos sobre o tráfego que sacamos. Por exemplo, se sacarmos 3GB e fizermos upload de 6GB ficamos com o racio de 2, o que significa em termos práticos que enviamos duas vezes mais o que sacamos.

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